A Mostra

Uma realização da Heco Produções e do Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), a 2ª Mostra de Cinema de Gostoso (13 a 18 de novembro) dá continuidade ao projeto iniciado ano passado na cidade de São Miguel do Gostoso/RN. Após o sucesso da primeira edição, a mostra desse ano ganha mais um dia (seis no total), uma tela maior ao ar livre na Praia do Maceió (passando de 8m para 12m de comprimento) e tem estimativa de exibição de 70 filmes.

Por meio de sessões ao ar livre e em ambiente fechado no novíssimo Espaço Cultural São Miguel do Gostoso, a população terá a oportunidade de assistir, GRATUITAMENTE, aos mais recentes lançamentos cinematográficos brasileiros.

Os melhores filmes da Mostra são escolhidos através de votação popular e recebem o Prêmio Luís da Câmara Cascudo.

Dando continuação aos Cursos de Formação Técnica e Audiovisual para 52 jovens de São Miguel do Gostoso e distritos arredores, serão ministrados ao longo deste ano, oito novos cursos em parceria com o CINEDUC – Cinema e Educação – e o IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte:


Ao final das oficinas, os jovens realizarão dois curtas-metragens que serão exibidos na abertura da Mostra e farão parte da organização oficial do evento. Os cursos têm como finalidade a formação cultural dos jovens e sua capacitação profissional para gerir eventos, e suprir a crescente demanda do mercado audiovisual no Brasil.

 

Raimundo Arrais sobre Luís da Câmara Cascudo e o prêmio homônimo

Nada mais oportuno e coerente do que consagrar o nome de Luís da Câmara Cascudo a este prêmio da 1ª Mostra de Cinema de Gostoso. A justificativa que gostaria de invocar aqui se apoia numa afinidade que vejo entre a atividade intelectual de Cascudo e a arte do cinema.

Para fins dessa apresentação, poderíamos isolar, entre as práticas intelectuais desse homem-tudo, o etnógrafo e o jornalista. Porque Cascudo tudo indagou, e a todos – viventes do centro e das fímbrias, nobres e esquecidos. Ele consagrou a vida a perguntar aos pescadores sobre os bem guardados segredos de seu ofício, praticado nos limites entre a terra e o mar; a ouvir e interpretar (atribuindo categoria de arte) os cantos de saudade e ofício do vaqueiro; a buscar o burburinho do saber e das palavras que circulam nas feiras; a auscultar as vozes mortas dos cemitérios, desvelando nelas os traços da memória esmaecida e fraturada da comunidade; a capturar as recordações do poder do Rio Grande do Norte; a debruçar-se sobre os fundos de quintal, divisando as astúcias vitais empregadas pelas criaturas inumanas na luta pela sobrevivência.

Etnógrafo, jornalista, poderíamos chamá-lo igualmente de documentarista. Um documentarista equipado com caderninhos de campo, com uma memória incomum, e um equipamento todo seu, uma câmera cascudo. Com sua câmera cascudo ele nos revelou aquilo que os sentidos distraídos não vêem, registrado no grão fino de sua película, tudo comunicado com meios de expressão eficientes e plásticos.

Cercado de escritores, poetas, jornalistas, músicos e pintores, que reuniu em torno de si ao longo de sua vida sem fronteiras, Cascudo teve uma existência atravessada pela arte dos amigos, em prosa, verso e telas. Um deles foi Dorian Gray, pintor do terno cangaceiro que guarda a porta de sua biblioteca.

Com a gravura que premiará o vencedor deste certame, feita por esse pintor, gravador, poeta, praticante de tantas grandes artes, a primeira edição deste certame acrescenta ao nome de Cascudo o nome de Dorian Gray, enriquecendo a festa do cinema contemporâneo em São Miguel do Gostoso com uma amostra do vigor e da expressividade do pensamento e da cultura do Rio Grande do Norte.

Raimundo Arrais
Historiador








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